Capítulos
1 Enoque
Autoria e Data de Composição
O livro de 1 Enoque é tradicionalmente atribuído a Enoque, o sétimo patriarca após Adão
. No entanto, o texto provavelmente foi escrito entre os séculos 3 a.C. e 1 a.C. e passou por várias edições, sendo o mais completo na versão etíope.Eventos do Livro
- A Queda dos Anjos e o Casamento com Mulheres Humanas —
- O Julgamento dos Anjos Caídos —
- Visão da Casa de Fogo e do Trono Divino —
- Origem dos Gigantes —
- Habitação dos mortos —
- Árvore da vida —
- As Parábolas de Enoque —
- Visão do Filho do Homem —
- Profecias de Uriel sobre o dilúvio —
- Ascensão de Enoque ao céu —
- A História Simbólica dos Judeus (Visão dos Animais) —
- Apocalipse das Semanas —
Livro dos vigilantes (Capítulos 1-36)
Provavelmente a parte mais antiga, escrita por volta de 300 a.C.
Livro das Parábolas (Capítulos 37-71)
Adicionado entre 100 a.C. e o início da era cristã. Contém o Filho do Homem, uma figura messiânica.
Livro Astronômico (Capítulos 72-82)
Relata conhecimentos astronômicos e calendários, provavelmente escrito por volta de 200 a.C.
Livro dos Sonhos (Capítulos 83-90)
Visões simbólicas da história do mundo, provavelmente escrito por volta de 160 a.C.
Epístola de Enoque (Capítulos 91-108)
A parte final, escrita ao longo de vários séculos, até o início da era cristã.
Menções no Canon da Bíblia
O livro de 1 Enoque é mencionado no Novo Testamento. A principal referência está em
onde o autor cita diretamente uma profecia atribuída a Enoque, o sétimo a partir de Adão. Esta citação é quase idêntica ao texto encontrado em .Além disso, há paralelos entre a descrição de anjos caídos em 1 Enoque (capítulos 6-11) e o que é descrito em
e , que mencionam anjos que não guardaram seu estado original.Parábola do Rico e Lázaro
A parábola do Rico e Lázaro
também apresenta paralelos com as visões de 1 Enoque. Em ambas as narrativas, os mortos são separados por uma barreira intransponível, com os justos em consolo e os ímpios em tormento. A ideia de diferentes moradas para os mortos é claramente detalhada em , onde os espíritos aguardam o julgamento em câmaras separadas.Apocalipse
Existem vários paralelos entre o livro de 1 Enoque e o
.Descrição | 1 Enoque | Apocalipse |
---|---|---|
Visão do Trono de Deus | ||
Árvore da vida | ||
Anjos glorificam a Deus | ||
Os mortos são entregues para julgamento | ||
Messias reina sobre as nações | ||
Reis e poderosos lançados no fogo | ||
Anjos prendem demonios | ||
4 anjos e 4 cavaleiros recebem autoridade pra punir | ||
Um monstro (ou besta) que vem do mar | ||
Um monstro (ou besta) que vem da terra | ||
Anjos realizam medições | ||
Messias destrói com as palavras | ||
Justos recebem vestes |
Menções da Patristica
A discussão da veracidade de I Enoque é antiga e muitos pais da igreja comentaram sobre. Temos exemplos como Justino Mártir e Tertuliano que o reconheciam como inspirado, e também exemplos como Jerônimo e Agostinho que o rejeitaram.
Mas os anjos transgrediram esta ordem, e foram capturados pelo desejo das mulheres, e geraram filhos que são chamados de demônios; e, além disso, dizem que esses filhos ensinaram às mulheres toda espécie de encantamentos e artes mágicasDiálogo com Trifão, 79
Justino Mártir (100-165)
Mas os anjos, violando essa ordem, deixaram-se vencer por seu amor pelas mulheres e geraram filhos, que são os chamados demôniosPrimeira Apologia, 5
Justino Mártir (100-165)
Digamos a verdade: antigamente, alguns demônios perversos, fazendo suas aparições, violaram as mulheres, corromperam os jovens e mostraram espantalhos aos homens. Com isso, ficaram apavorados aqueles que não julgavam pela razão as ações praticadas e assim, levados pelo medo e não sabendo que eram demônios maus, deram-lhes nomes de deuses e chamaram cada um com o nome que cada demônio havia posto em si mesmoSegunda Apologia, 5
Justino Mártir (100-165)
Deus fez o universo por meio de Sua Palavra, e ordenou aos anjos que governassem os elementos e os céus. Mas a parte deles que recebeu o encargo sobre a terra falhou em sua administração. Esses anjos se apaixonaram pelas mulheres e geraram filhos, os quais são chamados de gigantes. Eles ensinaram aos homens tudo o que é ilícito, levando-os à idolatria e à feitiçaria.Súplica pelos Cristãos (Legatio), 24
Atenágoras de Atenas (133-190)
Quando uma multidão de anjos foi enviada para proteger os homens e assegurar sua obediência a Deus, aquele que era o principal entre eles, ao ver a beleza das mulheres, foi seduzido por seu encanto e persuadiu os outros a abandonarem sua lealdade a Deus. Assim, esses anjos caíram para a terra e, tomando para si esposas humanas, geraram uma raça perversa.Instituições Divinas, 2:15
Lactâncio (250-325)
Os gigantes que nasceram dessas uniões foram destruídos por Deus em razão de sua maldade. Mas seus espíritos, uma vez que eram gerados por seres celestes, continuaram a existir e passaram a perambular pelo mundo, causando perturbação e engano entre os homens. Esses são os demônios que agora enganam as nações"Instituições Divinas, 4:26
Lactâncio (250-325)
Os espíritos que estão sob o céu foram designados para governar as ordens do mundo, mas, ao se tornarem amantes do mal, perverteram a humanidade e a ensinaram a cometer toda sorte de iniquidade. Desse modo, a idolatria nasceu da transgressão desses anjos, e os homens passaram a adorar imagens em vez do Deus verdadeiro.Discurso Grego, 7
Taciano (120-180)
Neste mundo existem poderes e anjos que foram designados por Deus para governar as nações. Porém, alguns deles se tornaram apóstatas e perverteram a humanidade com falsas doutrinas e idolatria. Assim, os homens foram levados a adorar falsos deuses e a se afastar do Criador.Contra as Heresias IV, 36:4
Irineu de Lyon (130-202)
Por essa razão, no dilúvio, Deus destruiu a raça dos gigantes, os quais, por sua imensa estatura e força, eram impiedosos e pecadores, trazendo grande corrupção à humanidade.Contra as Heresias V, 5:1
Irineu de Lyon (130-202)
Os espíritos desses gigantes, que foram destruídos pelo dilúvio, agora vagueiam pelo mundo como espíritos malignos. Eles tentam os homens e os afastam do Deus verdadeiro, pois foram gerados por uma união ilícita entre anjos e mulheres humanas.Contra as Heresias V, 24:4
Irineu de Lyon (130-202)
Eu sei que o Livro de Enoque não é recebido por alguns, pois eles não o consideram como Escritura. Mas, sendo ele citado por Judas, não pode ser rejeitado e tem valor para nós.Sobre o Véu das Virgens, 7
Tertuliano (160-220)
Os anjos caídos, ao se unirem às filhas dos homens, ensinaram-lhes artes ilícitas, feitiçarias, encantamentos e toda sorte de idolatria. E é assim que os homens aprenderam a criar imagens e adorar os astros.Sobre a Idolatria, 4
Tertuliano (160-220)
Os demônios não são nada mais do que os espíritos dos gigantes, gerados pela união dos anjos com mulheres mortais. Como punição, Deus os condenou a vagar pela terra e a enganar os homens.Apologia, 22
Tertuliano (160-220)
O mundo antigo foi destruído por um dilúvio porque os anjos, que foram enviados para governá-lo, se tornaram corruptos e geraram uma raça de seres impiedosos.Sobre a Paciência, 5
Tertuliano (160-220)
Os anjos, que foram enviados para supervisionar a Terra, corromperam-se com as mulheres e ensinaram aos homens toda sorte de artes proibidas, como a feitiçaria, a idolatria e a astrologia.Stromata V, 1:10
Clemente de Alexandria (150-215)
E assim, Enoque, agradando ao Senhor, foi levado e não viu a morte. Ele ensinou muitas verdades antes de ser tomado, e os santos preservaram suas palavras.Stromata, 6:11
Clemente de Alexandria (150-215)
Os demônios são os espíritos dos gigantes que pereceram no dilúvio. Uma vez que foram gerados por uma união ilícita entre anjos e mulheres, agora vagueiam pelo mundo, enganando e tentando os homens.Pedagogo, 3:2
Clemente de Alexandria (150-215)
Aqueles que foram estabelecidos como príncipes sobre as nações não cumpriram seu dever corretamente, desviaram-se e caíram, tornando-se os espíritos malignos que agora governam as trevas deste mundo.De Principiis, 1.3.3
Orígenes (185-253)
Enoque, sobre quem as Escrituras testemunham que andou com Deus e foi tomado, nos deixou ensinamentos que, embora não estejam na Lei, foram preservados por alguns como escritos valiosos.Contra Celso, 5.52
Orígenes (185-253)
Os gigantes, descendentes da união ilícita dos anjos com as mulheres, foram destruídos pelo dilúvio, mas seus espíritos não pereceram. Eles vagueiam sobre a terra, perturbando os homens.Homilias sobre Números, 28.2
Orígenes (185-253)
Diz-se que os anjos que caíram do céu ensinaram à humanidade diversos conhecimentos proibidos, corrompendo assim as mentes dos homens e levando-os à idolatria.Preparação Evangélica, 5.4
Eusébio de Cesareia (260-339)
Antes do dilúvio, os gigantes, nascidos da união dos anjos com as filhas dos homens, espalharam a violência sobre a terra. Mas, pelo juízo divino, foram destruídos pelas águas, restando apenas sua memória nos registros antigos.Crônica, Livro 1
Eusébio de Cesareia (260-339)
Orígenes menciona que o Livro de Enoque era conhecido entre alguns dos antigos, mas não foi aceito universalmente na Igreja, pois sua origem não era clara.História Eclesiástica, 6.25.2
Eusébio de Cesareia (260-339)
Os antigos registram que os gigantes nasceram da união dos anjos caídos com as filhas dos homens. No entanto, tais escritos não são aceitos pela Igreja, pois não fazem parte das Escrituras canônicas.Comentário sobre Daniel, 4.22
Jerônimo (347-420)
Judas, ao citar Enoque, refere-se a uma tradição conhecida entre os judeus, mas não devemos considerar o livro como inspirado, pois sua autenticidade é questionável.Comentário sobre Judas, verso 14
Jerônimo (347-420)
Os demônios que agora atormentam a humanidade são os espíritos dos gigantes destruídos pelo dilúvio. Essa crença é antiga, mas deve ser analisada com cautela, pois não há certeza sobre sua origem.Epístola a Vigilâncio, 5
Jerônimo (347-420)
Muitos acreditam que os 'filhos de Deus' mencionados em Gênesis eram anjos que tomaram esposas humanas e geraram gigantes. No entanto, essa interpretação não é aceita universalmente, pois pode ser entendida de outra forma.A Cidade de Deus, 15.23
Agostinho de Hipona (354-430)
Dizem que o Livro de Enoque contém relatos sobre esses anjos caídos, mas tal obra não é aceita como canônica, e devemos ter cautela ao considerá-la como verdade histórica.A Cidade de Deus, 18.38
Agostinho de Hipona (354-430)
Aqueles que afirmam que os anjos pecaram ao se unirem às filhas dos homens interpretam erroneamente as Escrituras. Esses 'filhos de Deus' referem-se, na verdade, aos descendentes piedosos de Sete.Sobre o Gênesis contra os Maniqueus, 2.17
Agostinho de Hipona (354-430)
Os anjos caídos, ao desejarem as filhas dos homens, deixaram seu estado celestial e cometeram grande transgressão. Dessa união nasceram os gigantes, que trouxeram destruição à terra.Panarion, 46.1
Epifânio de Salamina (310-403)
Algumas seitas heréticas aceitam o Livro de Enoque como Escritura, mas a Igreja rejeita tal obra, pois sua origem é duvidosa e não está na tradição apostólica.Panarion, 48.3
Epifânio de Salamina (310-403)
Os espíritos dos gigantes, que foram destruídos pelo dilúvio, continuam a agir sobre os homens como demônios. Essa crença tem origem em escritos antigos, mas deve ser considerada com prudência.Panarion, 55.6
Epifânio de Salamina (310-403)
Os anjos, que foram designados para guardar a criação, não permaneceram em sua dignidade e desejaram as filhas dos homens, tornando-se causa de corrupção para a humanidade.Banquete das Dez Virgens, 7.5
Metódio de Olimpo (?-311)
Dizem que os gigantes nasceram de uma união proibida entre seres celestiais e mortais, e por sua grande iniquidade trouxeram destruição sobre a terra. No entanto, devemos olhar para essas tradições com discernimento.Sobre a Ressurreição, 2.6
Metódio de Olimpo (?-311)
Os demônios, que hoje influenciam os homens ao mal, são tidos por alguns como os espíritos dos gigantes, aqueles que pereceram no grande dilúvio. Essa crença é antiga, mas não deve substituir o ensinamento claro das Escrituras.Sobre o Livre Arbítrio, 1.14
Metódio de Olimpo (?-311)
Alguns interpretam os 'filhos de Deus' como anjos que se uniram às mulheres, mas essa explicação é absurda e inaceitável. Os anjos são seres espirituais e não possuem natureza carnal.Homilias sobre Gênesis, 6.4
João Crisóstomo (347-407)
Judas menciona Enoque e sua profecia contra os ímpios, mas o livro atribuído a Enoque não deve ser aceito como Escritura, pois sua autenticidade é questionável.Homilia sobre Judas, verso 14
João Crisóstomo (347-407)
Os demônios que hoje enganam os homens não são os espíritos de gigantes ou qualquer outra superstição, mas anjos que caíram por orgulho e se tornaram servos de Satanás.Homilias sobre Mateus, 58.3
João Crisóstomo (347-407)
Alguns dizem que os filhos de Deus que tomaram as filhas dos homens eram anjos, mas isso não pode ser aceito. Os anjos não possuem corpo material nem desejos carnais.Hexameron, 2.5
Ambrósio de Milão (340-397)
Os demônios, que hoje atormentam os homens, não são espíritos dos gigantes, mas anjos decaídos que, em sua rebelião, foram expulsos do céu e agora habitam entre os ímpios.Comentário sobre o Salmo 118, 10.14
Ambrósio de Milão (340-397)
Os gigantes eram homens de grande força e maldade, destruídos pelo dilúvio devido à sua perversidade. Não devemos dar ouvidos a fábulas sobre sua origem divina.De Noe et Arca, 4.8
Ambrósio de Milão (340-397)
Os anjos são espíritos puros, sem corpo nem paixões. Não é correto pensar que tenham caído por desejos carnais, pois isso é uma interpretação infantil das Escrituras.Oratio Theologica, 39.7
Gregório de Nazianzo (329-390)
Os demônios que agora pervertem os homens são os mesmos que foram expulsos do céu por sua arrogância. Não devemos dar crédito a fábulas que dizem que são espíritos de gigantes ou fruto de uniões impuras.Oratio 45 (Sobre a Páscoa), 9.5
Gregório de Nazianzo (329-390)
Se alguém quiser aprender a verdade, deve buscar nas Escrituras reconhecidas pela Igreja, e não em escritos duvidosos como o chamado Livro de Enoque, que não está na tradição apostólica.Cartas, 101.3
Gregório de Nazianzo (329-390)
Manuscritos
Fragmentos de 1 Enoque foram encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto, nas cavernas de Qumran, escritos em aramaico. Esses fragmentos são datados de cerca de 200 a.C. a 100 a.C.. A versão completa mais preservada está em ge'ez (etíope clássico), sendo parte do cânon da Igreja Ortodoxa Etíope.

Diferenças entre as Versões Grega e Etíope
A versão etíope de 1 Enoque contém o texto mais completo, com 108 capítulos. Já a versão grega é fragmentada e preserva apenas partes do texto. Uma diferença significativa está nos capítulos 6 a 11, que falam sobre a queda dos anjos. A versão etíope contém mais detalhes sobre o papel de Enoque como intermediário entre os anjos e Deus, enquanto a versão grega parece encurtar essas passagens, focando mais no julgamento dos anjos caídos.
Outra diferença é encontrada nas parábolas de Enoque (capítulos 37-71). Essas parábolas estão ausentes na versão grega, mas são uma parte importante da versão etíope, contendo visões escatológicas e a introdução do Filho do Homem, uma figura messiânica.