Tratado sobre os Princípios - Livro II 7
Livro II
Introdução à Unidade de Deus e do Espírito Santo
Assim, depois das primeiras discussões que, de acordo com as exigências do caso, tivemos no início sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, pareceu correto que devêssemos voltar atrás e mostrar que o mesmo Deus foi o criador e fundador do mundo, e o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, que o Deus da lei, dos profetas e do Evangelho é um e o mesmo.
E que, em seguida, deveria ser mostrado, com respeito a Cristo, de que maneira Ele, que anteriormente foi demonstrado ser a Palavra e a Sabedoria de Deus, se tornou homem.
Resta que agora retornemos com toda a brevidade possível ao tema do Espírito Santo.
É hora, então, de dizermos algumas palavras, da melhor forma possível, sobre o Espírito Santo, a quem nosso Senhor e Salvador, no Evangelho segundo João, chamou de Paráclito. Pois assim como é o mesmo Deus, e o mesmo Cristo, também é o mesmo Espírito Santo que estava nos profetas e apóstolos, ou seja, tanto naqueles que acreditaram em Deus antes da vinda de Cristo, quanto naqueles que, por meio de Cristo, buscaram refúgio em Deus.
De fato, ouvimos que certos hereges ousaram dizer que existem dois Deuses e dois Cristos, mas nunca soubemos da doutrina de dois Espíritos Santos sendo pregada por alguém. Pois como poderiam sustentar isso a partir das Escrituras, ou que distinção poderiam estabelecer entre Espírito Santo e Espírito Santo, se de fato alguma definição ou descrição do Espírito Santo pode ser descoberta?
Pois, embora devêssemos conceder a Marcião ou a Valentino que é possível fazer distinções na questão da Divindade, e descrever a natureza do Deus bom como uma, e a do Deus justo como outra, o que ele inventará, ou o que ele descobrirá, para permitir-lhe introduzir uma distinção no Espírito Santo? Considero, então, que eles não são capazes de descobrir nada que possa indicar uma distinção de qualquer tipo.
O Papel e a Manifestação do Espírito Santo
Agora, acreditamos que toda criatura racional, sem qualquer distinção, recebe uma parte dele da mesma forma que da Sabedoria e da Palavra de Deus. Observo, no entanto, que a principal vinda do Espírito Santo é declarada aos homens, após a ascensão de Cristo ao céu, em vez de antes de Sua vinda ao mundo.
Pois, antes disso, foi apenas sobre os profetas, e sobre alguns poucos indivíduos — se houvesse algum entre o povo que merecesse — que o dom do Espírito Santo foi conferido; mas após a vinda do Salvador, está escrito que a predição do profeta Joel foi cumprida: 'Nos últimos dias acontecerá, e derramarei meu Espírito sobre toda carne, e eles profetizarão', o que é semelhante à declaração bem conhecida, 'Todas as nações o servirão.'
Pela graça, então, do Espírito Santo, juntamente com muitos outros resultados, esta consequência mais gloriosa é claramente demonstrada, que em relação àquelas coisas que foram escritas nos profetas ou na lei de Moisés, foi apenas um pequeno número de pessoas naquela época, ou seja, os próprios profetas, e dificilmente outro indivíduo de toda a nação, que foram capazes de olhar além do mero significado corporal e descobrir algo maior, ou seja, algo espiritual, na lei ou nos profetas; mas agora há incontáveis multidões de crentes que, embora incapazes de desdobrar metodicamente e claramente os resultados de sua compreensão espiritual, estão, no entanto, firmemente persuadidos de que nem a circuncisão deve ser entendida literalmente, nem o descanso do sábado, nem o derramamento do sangue de um animal, nem que respostas foram dadas por Deus a Moisés sobre esses pontos. E esse método de apreensão é, sem dúvida, sugerido às mentes de todos pelo poder do Espírito Santo.
E assim como há muitas maneiras de apreender Cristo, que, embora seja sabedoria, não age como ou possui o poder da sabedoria em todos os homens, mas apenas naqueles que se dedicam ao estudo da sabedoria nele; e que, embora chamado de médico, não age como um para todos, mas apenas para aqueles que entendem sua condição frágil e doentia, e recorrem à Sua compaixão para obter saúde; assim também penso que é com o Espírito Santo, em quem está contido todo tipo de dons.
Pois a alguns é concedida pelo Espírito a palavra de sabedoria, a outros a palavra de conhecimento, a outros a fé; e assim, para cada indivíduo daqueles que são capazes de recebê-lo, o próprio Espírito é feito para ser aquela qualidade, ou entendido como aquilo que é necessário pelo indivíduo que mereceu participar. Essas divisões e diferenças não sendo percebidas por aqueles que o ouvem chamado de Paráclito no Evangelho, e não considerando devidamente em consequência de qual obra ou ato ele é chamado de Paráclito, eles o compararam a alguns espíritos comuns ou outros, e por esse meio tentaram perturbar as Igrejas de Cristo, e assim excitar dissensões de não pequena extensão entre irmãos.
Enquanto o Evangelho o mostra como de tal poder e majestade, que diz que os apóstolos ainda não podiam receber aquelas coisas que o Salvador desejava ensinar-lhes até a vinda do Espírito Santo, que, derramando-se em suas almas, poderia iluminá-los sobre a natureza e a fé da Trindade. Mas essas pessoas, por causa da ignorância de seus entendimentos, não são apenas incapazes de afirmar logicamente a verdade, mas nem mesmo conseguem prestar atenção ao que é avançado por nós; e, entretendo ideias indignas de Sua divindade, entregaram-se a erros e enganos, sendo depravados por um espírito de erro, em vez de instruídos pelo ensino do Espírito Santo, de acordo com a declaração do apóstolo, Seguindo a doutrina dos demônios, proibindo casar, para a destruição e ruína de muitos, e abster-se de carnes, que por uma exibição ostensiva de observância mais estrita podem seduzir as almas dos inocentes.
Devemos, portanto, saber que o Paráclito é o Espírito Santo, que ensina verdades que não podem ser expressas em palavras, e que são, por assim dizer, inexprimíveis, e que não é lícito para um homem expressar, ou seja, que não podem ser indicadas pela linguagem humana. A frase não é lícito é, pensamos, usada pelo apóstolo em vez de não é possível; como também é o caso na passagem onde ele diz, Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas são convenientes: todas as coisas me são lícitas; mas nem todas as coisas edificam. Pois aquelas coisas que estão em nosso poder porque podemos tê-las, ele diz que são lícitas para nós.
Mas o Paráclito, que é chamado de Espírito Santo, é assim chamado por sua obra de consolação, para clesis sendo chamado em latim consolatio. Pois se alguém mereceu participar do Espírito Santo pelo conhecimento de seus mistérios inefáveis, ele sem dúvida obtém conforto e alegria de coração. Pois, uma vez que ele chega pelo ensino do Espírito ao conhecimento das razões de todas as coisas que acontecem — como ou por que ocorrem — sua alma não pode de forma alguma ser perturbada, ou admitir qualquer sentimento de tristeza; nem é alarmado por nada, uma vez que, apegando-se à Palavra de Deus e Sua sabedoria, ele através do Espírito Santo chama Jesus de Senhor.
O Duplo Significado de Paráclito em Relação a Cristo e ao Espírito Santo
E já que mencionamos o Paráclito, e explicamos como pudemos quais sentimentos devem ser mantidos em relação a Ele; e já que nosso Salvador também é chamado de Paráclito na Epístola de João, quando ele diz, Se algum de nós pecar, temos um Paráclito com o Pai, Jesus Cristo, o justo, e Ele é a propiciação por nossos pecados; consideremos se este termo Paráclito deve ter um significado quando aplicado ao Salvador, e outro quando aplicado ao Espírito Santo.
Agora, Paráclito, quando falado do Salvador, parece significar intercessor. Pois em grego, Paráclito tem ambos os significados — o de intercessor e consolador. Por conta, então, da frase que segue, quando ele diz, E Ele é a propiciação por nossos pecados, o nome Paráclito parece ser entendido no caso de nosso Salvador como significando intercessor; pois Ele é dito interceder com o Pai por causa de nossos pecados. No caso do Espírito Santo, o Paráclito deve ser entendido no sentido de consolador, na medida em que Ele concede consolação às almas a quem Ele revela abertamente a apreensão do conhecimento espiritual.