Epístola de Barnabé 6

Vitória pascal

O que diz ele, quando cumpriu o mandamento? "Quem é que me julga?
Coloque-se diante de mim. Ou quem quer ser declarado justo diante de mim?
Que se aproxime do servo do Senhor. Ai de vós!
Porque todos vós envelhecereis como veste e a traça vos roerá". E o profeta continua, uma vez que ele foi colocado como sólida pedra para esmagar: "Eis que colocarei nos alicerces de Sião uma pedra de grande valor, escolhida, angular e preciosa".
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A referência à pedra angular em Sião remete a Isaías 28:16 e Salmos 118:22-23, comumente interpretados cristologicamente como profecias sobre Jesus. A associação com a 'pedra rejeitada' reflete a leitura messiânica dos primeiros cristãos, em contraste com a interpretação judaica tradicional.
O que diz em seguida? "Aquele que nela crer, viverá para sempre".
Será que a nossa esperança está numa pedra? De modo nenhum.
Mas foi o Senhor que tornou forte a sua carne. Com efeito, ele diz: "Ele me tornou como pedra dura".
O profeta continua: "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a cabeça de ângulo". E diz ainda: "Este é o dia grande e maravilhoso que o Senhor fez".
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A citação 'pedra que os construtores rejeitaram' (Salmo 118:22) foi amplamente usada no Novo Testamento (Mateus 21:42, Atos 4:11) para justificar a rejeição de Jesus pelas autoridades judaicas. O 'dia maravilhoso' (Salmo 118:24) ganhou significado escatológico na liturgia cristã primitiva.

A paixão

Eu, humilde servo do amor, vos escrevo com simplicidade, para que compreendais. O que diz ainda o profeta?
"Uma assembléia de malfeitores me rodeou. Eles me cercaram como abelhas ao favo".
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A descrição dos inimigos como 'abelhas ao favo' e o sorteio de vestes (Salmo 22:18) foram associados à paixão de Cristo nos Evangelhos (Mateus 27:35, João 19:24). A menção a 'assembléia de malfeitores' ecoa o contexto histórico dos processos judiciais contra Jesus.
E "sobre minhas vestes tiraram sortes". E como era na sua carne que ele devia revelar-se e sofrer, sua paixão foi revelada de antemão.
De fato, o profeta diz a respeito de Israel: "Ai da vida deles! Pois conceberam um desejo mau contra si mesmos, dizendo: Amarremos o justo, porque ele nos incomoda".
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A citação do Livro da Sabedoria 2:12 ('amarremos o justo') revela o uso de textos deuterocanônicos pela comunidade do autor, em contradição com o cânone protestante posterior que não reconhece tais livros como inspirados.

Nova criação

Que lhes diz Moisés, outro profeta? "Eis o que diz o Senhor Deus: Entrai na terra boa, que o Senhor prometeu a Abraão, Isaque e Jacó.
Tomai posse dessa terra, onde correm leite e mel." O que diz a sabedoria? Aprendei: "Ponde vossa esperança em Jesus, que deve revelar-se a vós na carne".
Com efeito, o homem é terra que sofre, pois é da terra que Adão foi plasmado. Que significa: "Na terra boa, terra onde correm leite e mel"?
Bendito seja nosso Senhor, irmãos, pois ele pôs em nós a sabedoria e o entendimento de seus segredos. Pois o profeta diz: "Quem poderá compreender uma parábola do Senhor, a não ser o sábio que conhece e ama o seu Senhor?" Depois de nos ter renovado com o perdão dos pecados, ele fez de nós um novo ser, de modo que tenhamos alma de criança, como se ele nos tivesse plasmado novamente.
De fato, a Escritura fala a nosso respeito, quando ele diz ao Filho: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que eles dominem sobre os animais da terra, as aves do céu e os peixes do mar".
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A interpretação trinitária de Gênesis 1:26 ('Façamos o homem') como diálogo entre Deus Pai e Filho reflete a cristologia primitiva, divergindo da interpretação judaica que vê um plural majestático ou consulta angélica.
E, vendo que nós éramos boa criação, o Senhor disse: "Crescei, multiplicai-vos e enchei a terra". Foi isso que ele disse ao Filho.
Vou agora te mostrar como ele fala de nós. Ele realizou segunda criação nos últimos tempos.
O Senhor diz: "Eis que faço as últimas coisas como as primeiras." Nesse sentido, assim falou o profeta: "Entrai na terra onde correm leite e mel, e dominai-a". Eis-nos, portanto, criados de novo, conforme o que ele diz ainda por outro profeta: "Eis", diz o Senhor, "que arrancarei deles" - isto é, daqueles que o Espírito do Senhor via de antemão - "os corações de pedra, e implantarei neles corações de carne".
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A referência a Ezequiel 36:26 ('corações de pedra/carne') é aplicada à comunidade cristã como cumprimento da nova aliança, estabelecendo paralelo com Jeremias 31:33 e 2 Coríntios 3:3 no contexto da teologia da substituição.
De fato, é na carne que ele devia manifestar-se e habitar em nós. Com efeito, meus irmãos, nossos corações assim habitados formam um templo santo para o Senhor.
E o Senhor diz ainda: "Como me apresentarei diante do Senhor e serei glorificado"? Ele diz: "Celebrar-te-ei na assembléia de meus irmãos e cantarei teus louvores em meio à assembléia dos santos".
Portanto, somos nós que ele fez entrar na terra boa. E o que significam o "leite" e o "mel"?
E porque a criança é nutrida primeiro com o mel e depois com o leite. Igualmente nós, alimentados pela fé na promessa e na palavra, vivemos dominando a terra.
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A analogia do leite e mel como estágios de crescimento espiritual reflete práticas catequéticas do século II, onde novos convertidos eram instruídos progressivamente (Hb 5:12-13), associando a Terra Prometida à maturidade na fé.
Ora, ele tinha dito antes: "Que eles cresçam, se multipliquem e dominem os peixes". E quem pode hoje dominar as feras, ou os peixes, ou os pássaros do céu?
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A questão sobre dominar criaturas revela tensão escatológica: o autor argumenta que o domínio prometido em Gênesis 1:26 só se realizará plenamente na parusia, interpretação comum no cristianismo primitivo frente à perseguição romana.
Devemos compreender que dominar implica poder, a fim de que aquele que ordena possa dominar. Se hoje não é assim, ele nos disse o tempo: Quando formos perfeitos para sermos herdeiros da aliança do Senhor.