Eclesiástico 20

Há repreensões inoportunas, e há quem se cala por prudência.
É melhor repreender do que se irritar,
mas quem admite a própria culpa evita o castigo.
Como eunuco que tenta violar uma jovem, assim é aquele que quer fazer justiça com violência.
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A comparação com um eunuco tentando violentar uma jovem reflete a visão da época sobre a impotência social dos eunucos, frequentemente associados a cargos administrativos, mas sem legitimidade para certas ações (ver is56:3-5). A justiça feita com violência é tão contraditória quanto um eunuco agir contra sua natureza.
Há quem se cala e é reconhecido como sábio, e há quem é odiado porque fala demais.
Há quem se cala por não saber o que responder, e há quem se cala porque sabe qual é o momento certo.
O homem sábio fica em silêncio até a hora oportuna, mas o falador e o insensato a deixam passar.
Quem fala demais torna-se detestável, e quem procura se impor acaba sendo odiado.
Na desgraça, um homem pode encontrar a salvação, enquanto que a fortuna pode provocar a ruína.
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A ideia de que a desgraça pode trazer salvação ecoa temas de Provérbios (pv16:18-19) e Eclesiastes (ec3:1-8), onde a humildade e o tempo certo são centrais. A contradição aparente reforça a visão de que o sucesso material não equivale à virtude.
Há presentes que não servem para nada, e há presentes que rendem o dobro.
Há quem procura glória e encontra humilhação, e quem foi humilhado, mas levanta a cabeça.
Há quem compra barato muitas coisas, e acaba pagando sete vezes mais.
Com suas palavras o sábio se torna amável, mas o insensato derrama suas gentilezas inutilmente.
O presente do insensato não ajudará você em nada, porque ele espera avidamente receber sete vezes mais.
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A expectativa de retorno exagerado (sete vezes mais) lembra a crítica a empréstimos com juros abusivos, condenados no Êxodo (ex22:25). O insensato aqui age contra a ética comunitária da época.
Ele dá pouco e reclama muito, gritando alto como leiloeiro; hoje faz um empréstimo, e amanhã já quer a restituição. Esse tipo de homem é sempre odioso.
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A pressa em cobrar empréstimos contradiz a lei mosaica, que proibia juros e prazos rígidos para pobres (dt23:19-20). O comportamento descrito é associado à ganância, motivo de rejeição social.
O insensato diz: “Não tenho amigos. Ninguém reconhece os benefícios que eu faço”.
Até os que comem do seu pão falam mal dele, e quantos muitas vezes não zombam dele!
É melhor escorregar no chão do que no falar, pois a queda dos maus chega depressa.
Do homem grosseiro saem palavras fora de hora, que se multiplicam na boca dos insensatos.
Ninguém aceita provérbio dito por um insensato, porque ele não sabe dizê-lo na hora certa.
Há quem não pode pecar, só por causa da pobreza, e ainda consegue descansar sem remorso.
Há quem se destrói por causa do respeito humano, e há quem se perde por respeito ao insensato.
Há quem por timidez faz promessas a um amigo, e sem necessidade o transforma em inimigo.
A mentira é mancha infame para o homem, e está sempre na boca dos insensatos.
Um ladrão vale mais do que um mentiroso incorrigível, mas os dois terão como herança a perdição.
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A comparação entre ladrão e mentiroso é incomum, pois o nono mandamento condena a falsidade (ex20:16). A 'herança da perdição' reforça que ambos os pecados têm consequências graves, embora o contexto cultural valorizasse a honestidade acima de tudo.
O vício do mentiroso é uma desonra, e a vergonha sempre o acompanha.
O sábio se promove com a palavra, e o homem de bom senso agrada aos poderosos.
Quem cultiva a terra consegue boa colheita, e quem agrada os poderosos consegue perdão para a injustiça.
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A afirmação de que agradar os poderosos traz 'perdão para a injustiça' reflete um ceticismo sobre a corrupção nas estruturas de poder, contradizendo a exigência bíblica de justiça imparcial (pv17:23, mq3:11).
Favores e presentes cegam o sábio: são mordaça na boca, porque impedem a repreensão.
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A crítica a presentes que 'cegam o sábio' alinha-se com advertências contra subornos no Pentateuco (ex23:8, dt16:19). A 'mordaça' simboliza como o favorecimento impede a justiça.
Sabedoria escondida e tesouro oculto são coisas inúteis.
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A inutilidade da sabedoria escondida contrasta com o ensino de Jesus sobre 'não esconder a luz' (mt5:15-16), mostrando uma divergência entre a prudência contextual (Eclesiástico) e a proclamação aberta (Novo Testamento).
É melhor um homem que esconde a sua loucura, do que um homem que esconde a própria sabedoria.