Cânticos 2

—Sou um narciso de Saron, uma açucena dos vales.
—Como açucena entre espinhos é a minha amada entre as donzelas.
—Macieira entre as árvores do bosque, é o meu amado entre os jovens; à sombra dele eu quis sentar, com seu doce fruto na boca.
Ele me levou à adega, e contra mim desfralda sua bandeira de amor.
Sustentem-me com bolos de passas, deem-me forças com maçãs, oh! que estou doente de amor...
Sua mão esquerda está sob a minha cabeça, e com a direita ele me abraça.
—Filhas de Jerusalém, pelas cervas e gazelas do campo, eu conjuro vocês: não despertem, não acordem o amor, até que ele o queira!
A voz do meu amado! Vejam: vem correndo pelos montes, saltitando pelas colinas!
Meu amado é como um gamo, um filhote de gazela. Ei-lo postando-se atrás da nossa parede, espiando pelas grades, espreitando pela janela.
O meu amado fala, e me diz: “Levante-se, minha amada, formosa minha, venha a mim!
Veja: o inverno passou! Olhe: a chuva se foi!
As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola se ouve em nosso campo.
Despontam figos na figueira e a vinha florida exala perfume. Levante-se, minha amada, formosa minha, venha a mim!
Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, na fenda dos barrancos... Deixe-me ver a sua face, deixe-me ouvir a sua voz, pois a sua face é tão formosa e tão doce a sua voz!”
Agarrem as raposas, as raposas pequeninas que devastam nossas vinhas, nossas vinhas floridas!...
O meu amado é meu e eu sou dele, do pastor das açucenas!
Antes que a brisa sopre e as sombras se debandem, volte! Seja como um gamo, amado meu, um filhote de gazela pelas montanhas de Beter.