Gênesis 21

Javé interveio em favor de Sara, como tinha dito, e fez por ela o que tinha prometido.
Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão, já velho, no tempo que Deus tinha fixado.
Ao filho que lhe nasceu, que Sara lhe deu à luz, Abraão pôs o nome de Isaac.
Abraão circuncidou seu filho Isaac, quando este completou oito dias, como Deus lhe havia ordenado.
Abraão tinha cem anos, quando nasceu seu filho Isaac.
Então Sara disse: “Deus me deu motivo para rir; e todos os que o souberem vão rir comigo!”
Depois disse: “Quem jamais teria dito a Abraão que Sara iria amamentar filhos! No entanto lhe dei um filho em sua velhice!”.

Abraão despede Agar e Ismael.

O menino crescia e foi desmamado. Abraão fez um grande banquete no dia em que Isaac foi desmamado.
Mas Sara viu que o filho de Agar, a egípcia, aquele que ela havia dado a Abraão, brincava com seu filho Isaac.
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O termo 'zombava' (hebraico 'metsacheq') pode significar 'brincar' ou 'zombar'. A ambiguidade gera interpretações: alguns veem Ismael ridicularizando Isaque (justificando a expulsão), outros como brincadeira inocente. Paulo usa essa passagem em gl4:29 para simbolizar conflito entre 'filhos da carne' e 'filhos da promessa'.
Disse então a Abraão: “Expulsa esta escrava e seu filho, porque o filho desta escrava não deve ser herdeiro com meu filho Isaac”.
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A exigência de Sara parece cruel, mas reflete costumes antigos sobre herança: filhos de escravas não tinham direitos se houvesse herdeiro legítimo (cf. códigos mesopotâmicos como o de Hamurabi). A aprovação divina (v.12) é polêmica, mas alinha-se com a eleição de Isaque como herdeiro da aliança.
Isso desagradou muito a Abraão por causa de seu filho.
Mas Deus disse a Abraão: “Não fiques contrariado por causa do menino e de tua escrava; faze tudo o que Sara te pedir, escuta sua voz, porque é de Isaac que nascerá a posteridade que terá teu nome.
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Deus endossa a decisão de Sara, fato incomum numa sociedade patriarcal. A frase 'em Isaque será chamada tua descendência' estabelece a linha messiânica que culmina em Cristo (mt1:2, lc3:34). Ismael também é abençoado (v.13), originando árabes (gn25:12-18).
Mas do filho da escrava farei também uma nação, porque é tua estirpe”.
Abraão levantou-se bem cedo, tomou pão e um odre de água e os deu a Agar, colocando-os sobre seus ombros; entregou-lhe o menino e a mandou embora. Ela partiu e andou errante pelo deserto de Bersabeia.
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Berseba, local estratégico no Neguebe, é associada a poços arqueológicos descobertos no século XX. A expulsão de Agar ecoa gn16, mas aqui há desenvolvimento: Ismael é adolescente (o termo 'menino' no v.14-15 usa 'naar', sugerindo 13-15 anos).
Quando acabou a água do odre, ela deixou o menino debaixo de uma moita
e foi sentar-se defronte, à distância de um tiro de flecha, porque dizia: “Não quero ver o menino morrer!”. Quando se sentou defronte, ela se pôs a gritar e a chorar.
Mas Deus ouviu o choro do menino, e um anjo de Deus chamou Agar lá do céu e lhe disse: “Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu o choro do menino do lugar onde está.
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O 'anjo de Deus' aqui pode ser uma teofania (manifestação divina). A promessa de nação para Ismael cumpre-se nos ismaelitas (árabes). Curiosamente, Deus ouve o choro do menino, não o de Agar, enfatizando sua compaixão mesmo fora da linha eleita.
Levanta-te, toma o menino e segura-o pela mão, porque farei dele uma grande nação”.
Deus abriu-lhe os olhos e ela viu um poço de água. Então foi encher o odre e deu de beber ao menino.
Deus esteve com o menino, que cresceu e morou no deserto e se tornou um arqueiro.
Morou no deserto de Farã, e sua mãe escolheu para ele uma mulher egípcia.

Aliança com Abimelec

Naquele tempo, Abimelec veio com Ficol, chefe de seu exército, dizer a Abraão: “Deus está contigo em tudo o que fazes.
Pois bem, jura-me aqui por Deus, que não me enganarás nem a mim, nem a meus filhos, nem a meus descendentes, mas que agirás comigo e com o país no qual és forasteiro com a mesma lealdade que te demonstrei”.
Respondeu Abraão: “Eu juro”.
Mas Abraão queixou-se a Abimelec por causa de um poço de água que os servos de Abimelec tinham usurpado.
Abimelec respondeu: “Eu não sei quem fez isto, nem tu me informaste, nem eu ouvi falar disto senão hoje”.
Então Abraão tomou ovelhas e bois e deu-os a Abimelec, e assim fizeram uma aliança entre si.
Depois Abraão separou sete ovelhas do rebanho.
Abimelec perguntou a Abraão: “Que significam aquelas sete ovelhas que puseste à parte?”
Ele respondeu: “Tu aceitarás estas sete ovelhas de minha mão, para que isto me sirva de testemunho de que fui eu que cavei este poço”.
Por isso aquele lugar se chamou Bersabeia, porque ali os dois fizeram juramento.
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Berseba ('Poço do Juramento' ou 'Poço das Sete', referindo-se às sete cordeiras do v.28-30) torna-se importante centro patriarcal (gn26:33, 46:1). Escavações encontraram poços profundos da Idade do Ferro, sugerindo tradição oral preservada no texto.
E depois que concluíram a aliança em Bersabeia, Abimelec levantou-se com Ficol, chefe de seu exército, e voltou para o país dos filisteus.
Abraão plantou uma tamargueira em Bersabeia e invocou ali o nome de Javé, Deus eterno.
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'El-Olam' (Deus Eterno) é um dos nomes divinos vinculados à adoração local. O bosque (possivelmente tamargueiras) indica prática cultual pré-levítica. Alguns críticos veem aqui influência cananeia, mas o texto reinterpreta elementos locais para o monoteísmo abraâmico.
E foi peregrino muito tempo no país dos filisteus.