Jeremias 14
2Judá está coberta de luto, e às suas portas enlanguesce o povo, a cabeça pendida para a terra. De Jerusalém se levanta um clamor de angústia.
3Os grandes da cidade enviaram os servos à procura de água. Encaminham-se estes às cisternas; água, porém, não encontram, e voltam com os recipientes vazios, envergonhados, confundidos, cobertas as cabeças.
4Fende-se o solo todo, porque a chuva não rega a terra. Decepcionam-se os lavradores e cobrem suas cabeças.
5Até a corça no campo abandona a cria, por falta de pastagem.
6Mantêm-se nos montes os asnos selvagens, aspirando o ar como chacais. Seus olhos perderam o brilho, pois que não há erva.
7Ó Senhor, se nos acusam nossas iniquidades, agi de acordo com a honra de vosso nome. São, na verdade, numerosas nossas infidelidades; pecamos contra vós.
8Senhor, esperança de Israel, vós que sois o seu salvador no tempo da desgraça, por que sois qual estrangeiro nessa terra, viajante de uma noite apenas?
9Por que sois como um homem desvairado, como um guerreiro que não nos pode mais defender? No entanto, Senhor, permaneceis entre nós, e é o vosso nome que trazemos. Não nos abandoneis!
10Eis o que diz o Senhor acerca desse povo: “Compraz-se ele em vaguear, e não sabe deter os seus pés. Deles o Senhor não se agrada”. Lembrando-se de suas iniquidades, castiga-o por causa de seus pecados.*
11Disse-me o Senhor em seguida: “Não intercedas em favor desse povo.
12Se jejuar, não escutarei seus lamentos, e se oferecer holocaustos e oblações não os aceitarei. Quero destruí-los pela espada, pela fome e pela peste”.
13Eu, porém, lhe respondi: “Ah, Senhor JAVÉ, olhai para o que dizem os profetas: a espada não vos atingirá e não sofrereis fome, pois que nesse lugar eu vos darei paz e segurança”.
14Replicou, porém, o Senhor: “São mentiras que proferiram os profetas em meu nome. Não os enviei, não lhes dei ordem, e nem mesmo lhes falei. Visões de mentiras, adivinhações vãs, invenções de suas mentes, eis o que profetizam!”.
15Por isso, eis o que diz o Senhor: “Acerca dos profetas que em meu nome proferem oráculos, quando missão alguma lhes confiei, e que proclamam não haver espadas, nem fome nesta terra, serão eles que hão de perecer pela espada e pela fome.
16E os homens aos quais se dirigem serão lançados nas ruas de Jerusalém, vítimas da espada e da fome, sem que ninguém os venha sepultar, nem eles, nem suas mulheres, nem seus filhos e filhas; e sobre eles farei recair o mal que praticaram”.
17E tu lhes dirás: Que se me fundam em lágrimas os olhos, noite e dia sem descanso, porquanto de um golpe horrível foi ferida a virgem, filha de meu povo, e sua chaga não tem cura!
18Se saio pelos campos, encontro homens atravessados pela espada; e se regresso à cidade, eu vejo outros passando pelo tormento da fome. Até o profeta e o sacerdote perambulam sem rumo pela terra.
19Repelistes Judá, de verdade, e vossa alma se desgostou de Sião? Por que nos feristes de mal incurável? Esperamos a salvação; nada, porém, existe de bom; aguardamos a era de soerguimento, mas só vemos o terror!
20Senhor! Conhecemos nossa malícia e a iniquidade de nossos pais. Bem sabemos que pecamos contra vós.
21Pela honra, porém, de vosso nome, não nos abandoneis, nem desonreis o vosso trono de glória. Lembrai-vos! E não rompais o pacto que conosco firmastes.
22Haverá, entre os vãos ídolos dos pagãos, algum que provoque a chuva? Ou é o céu que proporciona os aguaceiros? Não! Sois vós, Senhor, nosso Deus, vós, em quem depositamos nossa esperança; vós, que todas essas coisas haveis criado.*